terça-feira, 5 de julho de 2011

Belo Monte: sinal de alerta aos paraenses


O sonho da construção da Usina de Belo Monte se iniciou ainda no período militar em 1975, com os primeiros estudos de inventário da Bacia hidrográfica do Rio Xingu. Desde lá, o Brasil e o Estado do Pará mudaram muito, hoje vivemos um regime “democrático” e a idéia de desenvolvimento para a Amazônia também mudou, onde atualmente fala-se muito em desenvolvimento sustentável. No entanto, este novo pensamento contrapõe-se com uma visão desenvolvimentista que perdura desde o período militar e ainda hoje se vê necessário diante do bom desempenho econômico do país, que exige ampliação do seu parque industrial, logo, mais recursos energéticos e maiores infra-estruturas para tal.
Todo esse contexto põe em discussão a importância do Estado do Pará ao resto do Brasil. A atenção oferecida ao Estado pelo país, não condiz com o valor e o peso, tanto no sentido da economia, onde o mesmo figura entre os cinco maiores exportadores, como também no sentido de seus recursos naturais. O fato é que o tratamento do Governo Federal com o Estado do Pará, pouco mudou durante todos esses anos, sendo de certa forma uma visão colonialista, restando ao mesmo, ficar alheio ao desenvolvimento social do sul do país, onde estão concentrados os investimentos. E agora com a construção da Usina de Belo Monte, é a chance de o Pará reivindicar junto ao Brasil a devida atenção e investimentos que o Estado tanto necessita, não ficando assim, apenas com o ônus da construção de um projeto desse porte.
Orçada em aproximadamente R$19 bilhões aos cofres públicos e privados, uma vez construída, a Usina de Belo Monte será a maior usina em capacidade de geração de energia totalmente nacional, com um potência instalado de 11.233 MW, a qual aproveitará a queda significativa de 90 metros entre Altamira e a volta do Xingu. Sua construção inundará áreas em três municípios do Pará, são eles: Vitória do Xingu, Brasil Novo e Altamira.
É certo que o país deva realizar obras estratégicas e estruturantes, para um maior desenvolvimento, no entanto é importante que seja encontrada uma forma que este desenvolvimento seja homogêneo no país, e não excludente, fazendo de algumas regiões, verdadeiras colônias brasileiras. Não pode haver desenvolvimento de algumas regiões do país em detrimento da miséria e dos problemas sociais de outras, como que há muito tempo vem ocorrendo com o norte do Brasil.
Especificamente o Pará, deve-se valer do grande potencial energético e extrativista, para fortalecer o sentimento de sociedade nortista e amazônica e exigir o que deve ser exigido dentro do que nos é de direito, pois é inaceitável que este projeto de construção da Usina de Belo Monte, venha a ser remodelado para agradar apenas investidores estrangeiros e visar mais uma vez, em apenas, trazer desenvolvimento industrial, econômico e social ao Sudeste e Sul do país, para onde já se destinará 3/4 da energia produzida na usina a ser construída, assim como acontece na usina de Tucuruí, onde apenas 1/3 do que produzido é destinado a população do estado, onde podemos ressaltar que ainda temos regiões no Pará que ainda sequer há energia elétrica e sofrem com racionamentos ou ultrapassados geradores em seus municípios.
Em relação aos impactos ambientais e sociais que uma obra deste porte pode trazer a região, é preciso que cada vez mais, a região tenha o apoio da União, no sentido de encontrarmos uma forma que possamos ter um desenvolvimento sustentável junto aos recursos da Amazônia, mas que também não podemos abrir mão de algumas vantagens que temos com a região amazônica e toda sua biodiversidade e seu potencial hidrelétrico, fazendo com que isto seja de uma forma em que se busque preservar os interesses coletivos de sociedades nativas e de toda a nação.
Não pode-se cometer os mesmos erros de algumas décadas atrás com a construção da Hidrelétrica de Tucuruí, não que a sua construção tenha sido um erro, entretanto, durante a
execução da obra da usina, vários erros poderiam ter sido evitados, caso tivessem sido realizados estudos mais aprofundados dos impactos no meio ambiente e na comunidade no entorno da usina. Assim, o atual governo brasileiro não pode ser irresponsável em alguns pontos do processo de implantação do projeto da Usina de Belo Monte e muito menos, pode ser conivente com alguns atropelos que vem ocorrendo e colocando em risco a população local, em benefício de grandes empresas. É preciso que o governo seja claro diante dos fatos. Sabemos que uma obra deste porte irá trazer conseqüências, mas, uma vez que as mesmas sejam estudadas e encontradas formas viáveis, que o mesmo socialize com sociedade local, e não apenas esconda os problemas e tome as decisões sem consulta.
Uma vez levantados todos os questionamentos possíveis sobre a construção e seus impactos, é de extrema importância que sejam apresentados soluções para tais e mais que isso, que estas soluções saiam do papel e sejam colocadas em prática, principalmente a requalificação urbana da cidade Altamira, visando o bem estar da população e o desenvolvimento da região.
Até o momento, de tudo que foi prometido para a construção da usina na região, pouca coisa vem sendo colocado em prática. Logo, todos nós paraenses, devemos acender a luz de alerta, para que não sejamos mais uma vez, simplesmente usados pelo resto do país. É fundamental que a sociedade paraense esteja atenta para cada passo desse projeto e que exijamos tudo que os interessados prometeram para o Estado, e mais, com isso possamos também entender a real importância do Pará, em relação ao país, onde não devemos a partir de agora, nos contentar com o resto, pois a riqueza é do Pará, logo, a mesma tem que ficar aqui ou pelo menos, retornar de outra forma para a população paraense.

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