segunda-feira, 11 de julho de 2011

Filme repetido

Há um famoso ditado que afirma: “mudam os porcos, mas a lama continua a mesma”. A semana começou com um alvoroço político. Para não variar, mais um escândalo de corrupção varreu o governo Dilma, agora no Ministério dos Transportes.
A revista VEJA publicou matéria recheada de denúncias envolvendo toda a cúpula do Ministério e os líderes do Partido da República (PR), responsável pelas indicações do órgão. O esquema era baseado em pagamento de propina aos chefes do partido em troca de reajustes nos preços dos contratos de obras públicas.
Após as graves denúncias, viu-se desenrolar a novela de sempre: os acusados negaram o que foi publicado na reportagem; o governo convocou uma reunião de emergência; alguns políticos da base passaram a desferir o famoso “fogo amigo”, de olho nos cargos; e a diminuta oposição cobrou reação mais dura do governo.
Diante da situação árida, restou ao governo, primeiramente, afastar a cúpula do Ministério e, depois, efetivar a troca de comando da pasta, ao demitir o próprio Ministro dos Transportes.
Ficou evidente que, ao agir com rapidez, a presidente Dilma quis agradar a platéia, ainda mais quando se tem na memória recente o escândalo envolvendo Antônio Palocci. Porém, se tivesse mesmo interesse em moralizar o governo, a presidente não deveria nem ter mantido no comando do órgão a quadrilha que lá se instalou desde o governo Lula.
Vejamos: O então ministro Alfredo Nascimento, que possui base política no Amazonas, foi nomeado para o cargo em 2004. Em 2007, Luiz Antônio Pagot (afilhado político do Senador e ex-governador do Mato Grosso, Blairo Maggi) foi indicado para a chefia do Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (DNIT).
Há anos o Senador Mário Couto vem denunciando quase que diariamente as estripulias da dupla, e por várias e várias vezes a base governista impediu a convocação do presidente do DNIT no Congresso.
Em 2009, o jornal Correio Braziliense divulgou vídeo e matéria contendo denúncias contra o ministro Alfredo Nascimento. Lula nada fez. Dilma, então ministra da Casa Civil, não se importou.
Ademais, mesmo que não se tivesse descoberto a corrupção, a terrível situação das estradas e rodovias federais (decorrente da malservação do dinheiro público) já seria motivo suficiente para demitir toda a corriola que comandava o Ministério. Em suma, Dilma sabia muito bem quem estava nomeando e mantendo à frente da pasta dos Transportes.
Mas como o filme é repetido, já se anuncia o que vem pela frente: o governo manterá o ministério com o PR (cujo secretário geral é o deputado mensaleiro Valdemar da Costa Neto); uma eventual proposta de CPI dos Transportes será abafada pela ampla base governista no Congresso; e tudo continuará como antes.
Por isso, não surpreende a fala do líder do PR na Câmara, o dep. Lincoln Portela, sobre a sugestão do nome de Paulo Passos (secretário executivo da pasta) para o Ministério: “Ele é competente, sério, probo e íntegro, mas entre isso e ser ministro há uma distância a percorrer”. Parece que já foi o tempo em que ser competente, probo e íntegro eram virtudes a serem consideradas para se indicar um gestor público.
Concluo, então, com o corolário do adágio que iniciou o texto: “é preciso que as coisas mudem para que permaneçam exatamente como estão”.
Até o próximo escândalo.

PS: vale à pena assistir ao vídeo em que a então ministra da Casa Civil, Dilma Roussef, diz confiar e apoiar Alfredo Nascimento para qualquer cargo.




Nenhum comentário:

Postar um comentário