segunda-feira, 27 de junho de 2011

A MP da roubalheira


Em 2007, o Brasil foi escolhido pela FIFA como sede da Copa do Mundo de 2014. O país tinha, portanto, sete longos anos para se preparar para organizar o evento. É tempo mais do que suficiente para suprir as demandas de estrutura e logística de uma Copa.
Contudo, a euforia do momento parece ter anestesiado nossas autoridades e, após quatro anos de o Brasil ter sido escolhido, muito pouco foi realizado. O governo Lula viu a estrutura dos aeroportos degradarem-se ao longo deste período e nada fez para resolver o problema. As obras dos estádios andaram – quando andaram – a passos de tartaruga. Hoje, nenhum estádio brasileiro está preparado para receber a Copa.
Como se não bastasse, o novo-velho governo agora tenta esconder a sua incompetência e propôs mais uma daquelas medidas que faz jus ao famoso “jeitinho brasileiro”: o regime diferenciado de contratações, que introduz o sigilo nas licitações, além de outros pontos polêmicos.
Assim, qualquer obra relacionada à Copa pode ter o seu valor reajustado indefinidamente e, acreditem, sem que o grande público saiba disso. Descobrimos então que a culpa pelo atraso nas obras não é da incompetência do governo petista, mas da lei de licitações e seus parâmetros deveras rígidos.
A Medida Provisória 527, se transformada em lei, vai abrir a porta para uma verdadeira farra de contratações, sem limites de gastos, e às escuras. Será de fato um grande trem da alegria para as empreiteiras e para políticos corruptos. É, sem dúvidas, a MP da Roubalheira, a medida que institucionalizará a corrupção. Não à toa, o Procurador Geral da República manifestou-se pela inconstitucionalidade deste projeto.
E como dizia aquele bordão do extinto Casseta&Planeta: “não é só isso”. A MP permite também que as obras contratadas sejam reajustadas conforme a FIFA faça novas exigências. Então ficamos combinados assim: o país que se gaba de sua soberania, por negar a extradição do terrorista Cesare Battisti, se curvará oficialmente aos caprichos da dona FIFA.
A aprovação dessa proposta é um absoluto escárnio. É mais uma estripulia contra o povo brasileiro, que parece já ter esquecido o que foi o Pan 2007, quando o custo do evento saiu dez vezes maior do que o inicialmente previsto.
Diante de tão escabrosa realidade, só resta lembrar os versos do visionário Chico Buarque que escreveu:
“Dormia a nossa pátria mãe tão distraída
sem perceber que era subtraída
Em tenebrosas transações”

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