terça-feira, 22 de março de 2011

Clandestinos jogam fora água de Belém

Ele explica que os proprietários não podem ser tratados como clientes porque
a Lei estadual 6.929, de 12 de dezembro de 2006, prevê que postos de
combustíveis e empresas de lavagem de carro só podem utilizar água de poço
artesiano. "O problema é que eles não têm interesse em se regularizar e acabam
encontrando uma maneira mais fácil para realizar a atividade", ressalta o
diretor.
O desperdício não é o único problema causado pela irregularidade. Segundo
Martins, os desvios e ligações mal feitos também provocam contaminação. "Quando
eles fazem essa ligação clandestina, a água tratada se mistura com as impurezas
da rua. Ou seja, a rede de distribuição fica contaminada e essa mesma água com
qualidade inferior chega à casa do consumidor que mora próximo e que paga suas
contas direitinho. Todos ficam prejudicados", resume.


Flagrantes

Nas ruas da capital paraense não é difícil encontrar cenas que comprovam os
dados da companhia. Em uma volta pelo bairro do Marco, foram encontrados pelo
menos cinco estabelecimentos que utilizam água clandestina para a lavagem de
carros. Em um deles, na Travessa Timbó, é possível ver a ligação feita
diretamente na tubulação da Cosanpa. "Uma mangueira jorrando água por 20 minutos
representa 400 litros de água tratada jogada fora", exemplifica o diretor da
Cosanpa.
Dados da Companhia mostram que somente no bairro do Marco são mais de 10
estabelecimentos desse tipo. No ano passado, várias ações da Cosanpa, em
parceria com a Secretaria Municipal de Urbanismo (Seurb) e Secretaria Municipal
de Meio Ambiente (Semma), foram realizadas na tentativa de combater tanto
desperdício, mas o trabalho foi em vão. Os pontos fechados pela fiscalização
voltaram a funcionar no dia seguinte. "Temos muita dificuldade em combater essas
atividades porque sabemos que isso envolve um grande número de trabalhadores.
Mesmo assim, estamos estudando meios para encontrar soluções que favoreçam todos
os envolvidos", enfatiza o diretor.

O problema também está em casa

Em todo o país, o desperdício de água chega a 70%, mas é nas residências que
a situação se agrava. Segundo a Agência Nacional das Águas (ANA), 78% do consumo
de uma residência são gastos no banheiro. Uma torneira pingando permanentemente,
por exemplo, desperdiça 46 litros de água por dia.
Canos furados e vazamentos em descarga de vasos sanitários também representam
grande prejuízo para o bolso do consumidor. Cada segundo que uma pessoa
permanece com o dedo na descarga equivale a dois litros de água desperdiçados.
No banho, cinco minutos a mais com o chuveiro ligado representam mais 50 litros
de consumo. "As pessoas precisam ter consciência de que a água é um bem finito e
um dia ela vai ficar escassa. Nem mesmo nós, que moramos na Amazônia, estamos
livres desta ameaça", finaliza Martins.
Para minimizar o problema, a empresa está ampliando a instalação de
hidrômetros nos domicílios. "Com o hidrômetro, o cliente passará a pagar o valor
real do consumo. Ele poderá ter controle e acompanhar o quanto de água está
usando", explicou o presidente da Cosanpa, Antônio Braga. A meta é que 100% dos
clientes atendidos pela companhia tenham hidrômetro. Hoje, apenas 46% das
residências em Belém contam com essa ferramenta.
A Cosanpa, com o apoio do Governo do Estado, aposta na educação sanitária e
ambiental como instrumentos de transformação. Por isso, trabalha com projetos e
campanhas permanentes com objetivo de conscientizar o consumidor. Desde 2008, a
Cosanpa leva o projeto Saneamento e Cidadania para escolas públicas e privadas
do Pará. Cerca de 10 mil pessoas já participaram. Nesta gestão, essa iniciativa
será ampliada. "Quem sobrevive sem água? Ninguém. Por isso tentamos levar essa
situação para a população. Queremos mostrar que chega de esbanjar e gastar sem a
menor preocupação", diz Lene Ursen, socióloga e coordenadora do projeto.

Conheça o caminho das águas

O Sistema que abastece Belém é complexo e custa caro. O processo começa no
Rio Guamá, onde a Cosanpa mantém uma estação reservatória de água bruta à margem
direita. A captação é feita por meio de adutoras. De lá, a água é levada para o
manancial do Utinga, de onde é transferida para três Estações de Tratamento de
Água (ETA).
A mais antiga é a ETA São Brás, que produz 1.200 litros por segundo. Ao lado
do Bosque Rodrigues Alves fica a ETA 5º setor, produzindo 800 litros por
segundo. A maior delas é a ETA Bolonha, localizada numa área gigantesca de 50
mil metros quadrados. Sua capacidade está sendo duplicada e vai passar de 3.200
litros para 6.400 litros por segundo. Ao todo, serão 8.400 litros de água
tratada por segundo.
Depois de tratada nas ETAs e pronta para o consumo, a água segue por adutoras
menores para nove setores operacionais, localizados em diferentes áreas de
Belém. Nesses pontos, estações elevatórias transportam a água das adutoras para
os grandes reservatórios. Daí, através das tubulações de rua, a água é
distribuída para os bairros.


Bruna Campos - Secom

Nenhum comentário:

Postar um comentário